"Na minha literatura, a política transparece de uma maneira didática muito raramente. O tipo de conversas e discussões polêmicas que você encontra no Burger's daughter e em alguns de meus outros livros - isso desempenha realmente um papel muito pequeno. Por várias razões que têm a ver com a história, eles tinham que estar lá. Mas a verdadeira influência da política na minha literatura é a sua influência nas pessoas. Suas vidas, e creio que até mesmo suas personalidades, são modificadas pelas circunstâncias políticas extremas sob as quais se vive na África do Sul. Estou lidando com pessoas; aqui estão pessoas moldadas e modificadas pela política. Nesse sentido a minha matéria é profundamente influenciada pela política... Em Burger's daughter, você poderia dizer, face às circunstâncias, que é um livro sobre comunistas brancos na África do Sul. Mas para mim é outra coisa. É um livro sobre engajamento. O engajamento não é apenas uma coisa política. É parte de todo o problema ontológico da vida. É parte de minha idéia de que aquilo que um escritor faz é tentar compreender a vida. Penso que isso é o que a literatura é, penso que isso é o que a pintura é. É procurar esse fio de ordem e lógica na desordem, e o caráter de incrivel desperdício e maravilhosa prodigalidade da vida. O que todos os artistas estão tentando fazer é compreender a vida".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Revew. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.