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Política
Osman Lins

"Na Idade Média, a arte estava estreitamente ligada à religião, porque a vida era essencialmente religiosa. Hoje vivemos uma época essencialmente política. Sempre digo que até o gesto de se colocar um selo num envelope é um gesto político. Logo, a arte, seja qual for, não pode se distanciar desse universo. Tem que estar impregnada dele e de suas preocupações. Para escrever, o escritor reflete sobre a realidade do mundo onde vive. Refletindo é compelido a lutar de algum modo. Creio que o conflito se estabelece quando esse modo deixa de ser uma escolha para se tornar uma ordem. Há um trecho de Avalovara que define bem o que penso a respeito:

... A indiferença do escritor é adequada à sua presumível elevaçao de espírito? Para defender a unidade, o nível e a pureza de um projeto criador, mesmo que seja um projeto regulado pela ambição de ampliar a área do visível, tem-se o privilégio da indiferença? Preciso ainda saber se na verdade existe a indiferença: se não é - e só isto - um disfarce da cumplicidade. Busco as respostas dentro da noite e é como se estivesse nos intestinos de um cão. A sufocação e a sujeira, por mais que procure defender-me, fazem parte de mim - de nós. Pode o espírito a tudo sobrepor-se? Posso manter-me limpo, não-infeccionado, dentro das tripas do cão? Ouço: 'A indiferença reflete de acordo, tácito e dúbio, com os excrementos'. Não, não serei indiferente".

Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escrever 2. Porto Alegre: LP&M, 2008.

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