"O escritor se define, justamente, por não saber quem é. Não sou dono dos meus livros, eles me vêm. não estou falando de musas, ou de psicografia, mas de algo que acontece dentro do escritor. Na verdade, dentro de qualquer homem. O escritor apenas se aproveita da condição dividida de todo sujeito. Em geral, disfarçamos nossa parte escura. o escritor, ao contrário a coloca em primeiro plano e dela se alimenta. O escritor é como o Édipo que, só porque se cega, chega enfim a saber... Muitos dos sonhos narrados em Ribamar (Bertrand Brasil, 2010) são, de fato, verdadeiros. Outros, não. Assim como sou só em parte o narrador do romance. Sempre dei muita importância aos sonhos. Mas em Ribamar, pela primeira vez, resolvi deixar que os sonhos guiassem minha escrita. A cada sonho, muitos deles não narrados no livro, o romance se modificava, a própria estrutura às vezes rachava. Aprecio os sonhos porque eles nos diminuem e nos apontam nosso devido tamanho. Além disso, o escritor escreve como quem sonha. Ele não é um comandante de palavras, como diz a imagem contemporânea do escritor. Mas alguém arrastado pelas palavras, a elas submetido. Assim como em um sonho, nunca sabemos aonde um relato vai nos levar".
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2010 - Silvio Barsetti
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