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ENTREVISTA SIMULTÂNEA
Josué Montello

Josué de Sousa Montello nasceu em São Luís do Maranhão, em 21/08/ 1917. Jornalista, dramaturgo e escritor dos mais prolíficos na literatura brasileira, com mais de 150 livros publicados. Com apenas quinze anos, passa a integrar a Sociedade Literária Cenáculo Graça Aranha, em torno da qual gravitavam os novos escritores maranhenses ligados ao modernismo. Por essa época, começa a atuar na imprensa, colaborando assiduamente com os jornais A Tribuna, a Folha do Povo e O Imparcial. Em 1936 parte de São Luís e, depois de uma rápida passagem por Belém - onde deixa sua marca na imprensa da cidade, assinando várias matérias para revistas e jornais, segue para o Rio de Janeiro. Aí logo se integra a um grupo de escritores reunidos em torno do semanário Dom Casmurro, especializado em literatura. Em 1941, lança seu primeiro romance: Janelas Fechadas, onde já demonstra, além da prosa límpida e harmoniosa, consumada maestria no desenvolvimento da trama, na fixação dos personagens e do cenário. Leitor compulsivo, logo se apaixona pela organização de bibliotecas e assume o cargo de professor do curso de Organização de Bibliotecas do DASP. Em seguida é convidado por Rodolfo Garcia, diretor geral da Biblioteca Nacional, para planejar uma ampla e profunda reforma naquela biblioteca. Embora atarefado com tamanho projeto, encontra tempo para escrever e publicar ensaios - História da vida literária (1944) - e peças teatrais: Precisa-se de um anjo (1943). Junto a reforma administrativa na BN, estabeleceu as modernas bases dos cursos de biblioteconomia naquela entidade - primeiro como coordenador e logo depois como diretor -, além de ensinar Literatura Portuguesa no curso superior de Biblioteconomia. A essa altura, já é considerado pelos colegas e admiradores um verdadeiro scholar: seus múltiplos interesses, a pesquisa constante, a aplicação quase beneditina à leitura crítica e às letras, transformam-no num artífice da cultura. Seu conhecimento é surpreendente em todos os campos. Durante todo esse período, acumula a direção do Serviço Nacional do Teatro e não pára de publicar: lança a Os holandeses no Maranhão (1945), a peça Escola da Saudade (1946) e aventura-se com igual sucesso pela literatura infanto-juvenil com O Tesouro de Dom José (1944), As Aventuras do calunga (1945), O bicho do circo ( 1945) e A viagem fantástica (1945). Pouco tempo depois torna-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, onde mantém uma coluna semanal até 1990. Escreve também regularmente na revista Manchete, uma das mais influentes do Brasil à época, e com regularidade surpreendente, não pára de publicar: vêm a lume os romances A luz da estrela morta (1948) e Labirinto de espelhos ( 1952); os ensaios Histórias da vida literária (1944); Hamlet de Antonio Nobre (1949); Cervantes e o Moinho de vento (1950) e a novela O Fio da meada (1955). A obra publicada até aquele momento de sua carreira é assombrosa, pois abrange uma significativa variedade de meios de expressão - do romance ao teatro, do artigo jornalístico ao ensaio histórico. Sua prosa é elegante e fluída, passando ao leitor aquela enganadora sensação de ter sido escrita de forma ligeira, fácil, sem esforço aparente. Sua sólida formação intelectual se faz sentir em todos os ensaios e artigos. A quantidade de títulos lançados por Montello é também motivo de espanto, ainda mais quando se leva em consideração o fato de que o autor se ocupava de várias outras atividades que não apenas a literatura, e mal havia chegado aos 38 anos de idade. Seus muitos lançamentos alcançam repercussão nacional e as premiações se acumulam: Prêmio Silvio Romero de Crítica e História, recebido em 1945; Prêmio Arthur Azevedo de Teatro, da Academia Brasileira, 1947; e o Prêmio Coelho Neto de Romance, da Academia Brasileira, em 1953. No ano seguinte é eleito para ocupar a Cadeira nº. 29 da Academia Brasileira de Letras, o mais jovem integrante daquela instituição em toda a sua história. Por outro lado,  com sua consumada competência administrativa recebe o convite para ocupar o cargo de subchefe da Casa Civil da Presidência da República em 1956, início da era JK. No ano seguinte, é designado pelo Itamaraty para reger a cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade de Lisboa, função que desempenha com o brilhantismo de sempre - tanto que o Instituto de Cultura Hispânica leva-o para a Espanha, onde ministra um curso de literatura brasileira na Universidade de Madri. Sempre em busca de novos desafios, não perde o fôlego com o passar dos anos: organiza e instala o Conselho Federal de Cultura e o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, é conselheiro cultural da embaixada do Brasil em Paris, fundador e reitor da Universidade Federal do Maranhão, embaixador do Brasil junto a UNESCO e presidente da Academia Brasileira de Letras. Afável no trato, de conversa fácil e finamente articulada, ele foi um homem forjado pelo tempo e por si próprio - algo raro de acontecer em qualquer lugar ou época, e que por isso mesmo torna lendárias figuras dessa estirpe. Suas qualidades pessoais, assim como as artísticas, eram muitas e variadas, e o amor que devotava ao Maranhão, simplesmente comovente - tanto que sua terra natal é o grande cenário de quase toda a sua obra ficcional. Integrando um dos mais férteis períodos da literatura brasileira posterior à semana de Arte Moderna, chamado de ciclo do romance nordestino, Montello, ao contrário da grande maioria de seus colegas de geração, voltou-se para o romance citadino ao estilo de Machado de Assis. Dessa forma, valendo-se de um estilo clássico e sumamente elegante de escrever, ele reconstrói com maestria e densidade psicológica toda a arquitetura de vida de um tempo que passou, como bem se vê em sua indiscutível obra-prima, Os Tambores de São Luís, de 1975 - o grande romance brasileiro sobre a escravidão. Faleceu em 15/03/2006.

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