"Quando começo a escrever um romance, eu não tenho nenhum plano estabelecido. Vou botando no papel tudo aquilo que me vem à cabeça. Depois de trezentas, quatrocentas páginas, paro, dou uma olhada e vejo se ali dentro há ou não um romance. Se houver, eu reescrevo desde a página inicial até a última. Se der certo, eu recomeço tudo. Aí, sim, procurando descobrir a forma mais adequada à narrativa, num processo que eu chamaria de construção. É nessa etapa que surgem os grandes problemas de harmonia, composição e ritmo. Resolvê-los é tarefa que me fascina. Tenho pavor de textos mal estruturados, mal escritos, com palavras sobrando. Odeio adjetivos, gerúndios e advérbios de modo. As palavras existem para dizer, e não para enfeitar. Nisso, estou com Graciliano Ramos e não abro".
Fonte:www.gargantadaserpente.com/entrevista/esdrasdonascimento.shtml
“Eu não sei escrever uma história. Acho que contar uma história é a coisa mais boba do mundo, qualquer cantador de feira do Nordeste faz isso, assim como qualquer repórter de jornal faz isso muito bem. Para mim, literatura não é a narração de uma ventura; é, pelo contrário, a aventura da narração. Quando escrevo, a pergunta básica é: quero escrever sobre o quê? Fazer um romance é tentar resonder a essa pergunta. A segunda pergunta é: por quê? Escrevo aquilo que desconheço, então escrevo para conhecer, para descobrir. O meu prazer é a feitura do romance. Sou um navegador a quem não interessa as terras, mas a viagem. Enfim, literatura, para mim, é o prazer do percurso... Com Osman Lins, que quando vinha de Pernambuco se hospedava em minha casa, eu aprendi uma cosa muito boa. Uma vez me perguntou como o estava meu romance. Eu disse-lhe que não estava escrevendo, porque tinha muita coisa pra fazer, estava sem dinheiro etc. Ele disse-me que era engraçado eu ter tempo para trabalhar para o patrão e não para mim. Com isso descobri que era possível trabalhar todos os dias com regularidade, com dor de cabeça, com diarréia, sem dinheiro, apaixonado: importante é trabalhar. Veja, por exemplo, o Hemingway, que era meio ‘porra louca’, mas trabalhava com regularidade; o Faulkner, que vivia sempre bêbado.... não se pode esperar pela inspiração. É preciso ter talento, como para ser médico ou jogador de futebol. Um dia eles se saem bem, outro mal, pela média vamos ver se eles são bons ou não. Não existe inspiração, existe um dia mais feliz e outro menos feliz... Eu já escrevi em condições péssimas, regulares e ótimas e a qualidade do texto nunca se alterou, porque demoro vários anos para fazer um romance e há todo um processo de aprendizado em cada lauda”.
RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumênica Editrici scrl, 1994.
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