"Escrevo à mão, em pedaços de papel dos mais variados tipos. Não consigo escrever uma história em ordem (às vezes nem um conto); funciono sempre por livre associação. Depois é que junto esses pedaços e tento dar-lhes uma coerência. Só aí vou para a máquina - e de novo, muitas vezes. Na vida real não sou perfeccionista, mas na literatura, sim. Por isso meus livros são geralmente curtos: se fossem mais longos, não poderia reescrevê-los tantas vezes quanto acho necessário. Neste processo, vou descobrindo as histórias que queria narrar - e às vezes sintetizo duas ou mais histórias numa só. Sofro - terrivelmente - de um excesso de inspiração. Poderia escrever um romance atrás do outro, ou vários a um tempo. o que às vezes me acontece. Felizmente não tenho tempo. Felizmente, porque isto me obriga a estabelecer prioridades".
Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escrever. v.3, 2ed. Porto Alegra, RS: L&PM, 2008.
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“Às vezes faço anotações. Mas essa é uma fraqueza. É melhor não anotar nada. A idéia verdadeira persegue o escritor. Esse, aliás, é um bom teste: não escrever de imediato. Se a idéia for boa, legitima, ela reaparece sempre. Não há como esquecê-la, como livrar-se dela. Porque, na verdade, não é tu que tens a idéia. A idéia é que te tem... No começo, meus personagens se pareciam com pessoas de verdade: Mayer Guinzburg, de O exército de um homem só, meu segundo romance, é uma síntese de vários judeus comunistas que conheci na minha infância, no bairro Bom Fim. Hoje, prefiro inventá-los. Exceto, quando lido com personagens reais, como o médico indigenista Noel Nutels, de A majestade do Xingu, que encontrei algumas vezes em congressos médicos. Em casos como esse, é preciso pesquisar a fundo a realidade, absorver essa realidade, mas, na hora de escrever, abandoná-la em favor da ficção... Depois que eu pego o embalo de um livro, posso virar a noite escrevendo. As vezes, escrevo 12 horas seguidas, como no caso de A majestade do Xingu. Não preciso de solidão - embora não costume mostrar originais para os amigos -, nem tenho lugar certo para escrever: gosto particularmente dos aeroportos, pela sua transitoriedade. Nos aeroportos, as noções de tempo, espaço e realidade ficam perdidas. É como ficar fora do mundo real, não estar ligado a nada, a não ser o texto. Aviões e trens também são excelentes lugares para se escrever... Quando sento para escrever. um conto, ele já está pronto na minha cabeça. O romance, não. Tenho apenas algumas cenas, o alicerce para o edifício da ficção. Depois, vou juntando, dando seqüência, mas sem preocupação com a ordem final, a que estará no livro. A versão definitiva do romance é parecida com o trabalho de um cineasta que monta seu filme".
Fonte: Correio Braziliense, 21/09/1977 - José Rezende Jr.
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“Em termos de escrever, o meu método, ou mania, ou superstição consiste em não ter método, ou mania, ou superstição. Desenvolvi minha atividade literária paralelamente a uma intensa carreira médica (primeiro clínica, depois em saúde pública), escrevia quando podia, quando dava tempo. E isso podia acontecer em qualquer lugar: numa lanchonete, esperando a comida, num hotel, no aeroporto (o laptop ajudou muito). Não preciso de silencio, não preciso de solidão, não preciso de condições especiais – só preciso de um teclado. E ah, sim, de ideias (mas diante do teclado as ideias surgem).”
Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)
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