"Muitas pessoas encontram na tristeza, no inconformismo, no mau humor material para criar na literatura, na música, na pintura. Isso não só diminui como humaniza o seu sofrimento e os seus sentimentos. Quando lemos um livro de um melancólico como o escritor checo Franz Kafka, que teve uma vida de intenso sofrimento psicológico, nós partilhamos de sua angústia – o que nos torna melhores. Toda arte encontra sua expressão na metáfora da garrafa do náufrago que atira sua mensagem ao mar sem saber a quem ela chegará. Essa mensagem tem chagado a bem poucos, é verdade, mas inúmeros casos talvez ela pudesse ser um substituto para os artifícios químicos. As pessoas que lêem, que se nutrem de arte, sabem que nenhum homem é uma ilha e que todos padecem, em maior ou menor grau, das limitações da condição humana”.
Fonte: Veja, 28/05/1997 – Mario Sabino
“Fiquei intrigado pelo fato de que a época dos descobrimentos é também uma época em que a melancolia hipocrática (resultante do excesso de bile negra) volta à baila, mas agora como um modo de vida. Paralelamente, e para neutralizar esta melancolia, surgem as manias: a especulação na Bolsa, por exemplo. O Novo Mundo será o depositário tanto dessa melancolia, como das manias. Policarpo Quaresma luta maniacamente contra a depressão. O dr. Simão Bacamarte, de O alienista, também. Hoje em dia, a palavra da moda é depressão – que é a melancolia sem a aura intelectual. É a doença psíquica mais temida numa sociedade competitiva. Já mania é uma coisa mais adaptada: o cara que está inventando um novo produto, que está lançando um novo empreendimento, pode ser um maníaco – ou gênio. Ou seja: ele goza do benefício da dúvida”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2001 – José Castello
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