“Os músicos aprenderam muito com a literatura, Chico, Caetano, Gil, aprenderam muito. E praticaram isso. Mas há um mal-entendido em tudo isso, porque fica parecendo de repente que são os maiores poetas brasileiros. Então, uma coisa que tem que ser esclarecida é o seguinte: eles são muito bons poetas, com a música atrás. Se tirar a música e deixar só o texto, poucos textos deles vão resistir, ao passo que, desses 635.867 poetas literários que existem no Brasil, você encontra letristas, quer dizer poetas muito mais elaborados, muito mais sofisticados que esses músicos populares. Apenas não têm o trânsito, nem a popularidade, porque não têm a música atrás deles, nem as gravadoras entornando dinheiro em cima. Eu me lembro que numa conferência que eu fiz aqui, no MAM, sobre música popular, alguns compositores que estavam na mesa se assustaram com o fato de eu dizer isso. Que dentro da literatura havia um bando incrível de poetas totalmente desconhecidos e que eram mil vezes melhores do que os compositores. Apenas eles eram desconhecidos. Porque para eles os poetas da série literária eram apenas João Cabral, Drummond, Cassiano e coisas que tais, porque não sabiam que o poeta da série literária é geralmente desempregado”.
Fonte: Escrita, S.Paulo. v. 2, n. 16, 1977 – Astolfo Araújo e Wladyr Nader
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