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Relações Literárias

CLARICE LISPECTOR

por Affonso Romano de Sant'Anna

"Era uma pessoa admirável, que hoje pertence às literaturas francesa e americana. Nasceu pronta. Vários contos que escreveu quando tinha 14 anos de idade foram aproveitados em A legião estrangeira. Tenho muitas histórias sobre ela.

Fonte: LUCENA, Suênio Campos de. 21 escritores brasileiros: uma viagem entre mitos e motes. São Paulo: Escrituras, 2001.

por Autran Dourado

“A Clarice Lispector era muito informada sobre teoria do romance. Vinha muito à minha casa conversar. Há uma visão muito falsa da Clarice: a de que ela era apenas uma escritora inspirada. Ao contrário, ela era muito preocupada com questões técnicas do romance. Uma coisa que atrapalha muito, e que precisa acabar no Brasil, é o mito do escritor ignorante”.

Fonte: O Globo, 29/07/1994 – José Mario Pereira 

Era uma mulher estranhíssima. Era muito sofrida embora parecesse o contrário. Era de uma extraordinária beleza, a Clarice. Era uma mulher...uma das mais bonitas que eu conheci. Olhos acidentados. Era muito estranha. Eu, por extravagância, peguei a mão dela e disse: “Me dá a sua mão que eu vou ler para você.” Ela ficou muito curiosa achando que eu ia ler... (risos)

Fonte: SANTOS, Leonor da Costa. Autran Dourado em romance puxa romance ou a ficção recorrente. Rio de Janeiro: UFRJ, Fac. de Letras, 2008. 213 fl. Tese de Doutorado em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira).

 

por Benedito Nunes

O que se pode dizer, depois de tudo, sobre a importância de Clarice? Sua escrita é absolutamente ímpar. Há alguns anos participei da organização do volume a ela dedicado pela coleção ‘Achives’, de Paris. Organizamos uma edição crítica de A paixão segundo G.H., uma edição crítica atípica, porque não havia originais do livro. Para compensar, a Casa de Rui Barbosa me ofereceu para consulta os originais de um conto de Clarice, A bela e a fera, um dos últimos que escreveu. Nós o reproduzimos na edição crítica de G.H. e pudemos assim mostrar a maneira entrecortada de escrever que Clarice cultivava. É como se ela escrevesse por fulgurações. O confronto do original com o texto definitivo mostra com muita clareza esses movimentos dentro de sua escrita”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/1996 – José Castello 

por Berta Waldman

Contrariamente à disposição da escritora, há uma referência judaica mais bem abstrata que se inscreve no texto de Clarice Lispector. Há nele uma busca reiterada (da coisa? do real?do impalpável? do impronunciável, de Deus?) que conduz a linguagem a seus limites expressivos, atestando, contra a presunção do entendimento, que há um resto que não é designável,  nem representável. Nesse sentido, a escrita de Clarice permanece fiel à interdição bíblica judaica, de delimitar o que não tem limite, de representar o absoluto. Esse movimento da linguagem clariciana retoma a tradição dos comentários exegéticos presos ao Pentateuco, que remetem ao desejo de se aproximar da divindade – tarefa de antemão fundada ao fracasso -, particularmente de ser o Deus judaico um nome, uma inscrição na linguagem, onde deve ser buscado, mas não encontrado, obrigando a retornar sempre. Nesse sentido, a abertura para uma interpretação multiplicadora é uma marca importante do judaísmo na obra de Clarice. Mas há outras marcas e é curioso como ela mantenha seu judaísmo sempre em quarentena, no meio fio, querendo se desvencilhar dele.”

Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2003 – Ubiratan Brasil   

Por Caio Fernando Abreu

Em 1971, li um dia no jornal que ela estava em Porto Alegre pra dar uma entrevista na TV e que depois ia autografar seus livros. Peguei todos os livros que tinha da Clarice e corri para o estúdio. Deparei, então, com uma mulher linda, enigmática, silenciosa. Aquela gente toda em torno dela e ela absolutamente quieta, sentada em uma cadeira com aquelas unhas vermelhas. Não tive coragem de me aproximar e a fiquei olhando a distância. De repente, ela me chamou e, com aquela voz cheia de erres presos, me disse: ‘Você senta comigo. Você se parece com dom Quixote e deve ficar ao meu lado, porque eu estou muito assustada”... Pouco tempo depois, viajei ao Rio de Janeiro para o lançamento de Limite branco. Assim que cheguei ao hotel, telefonei para ela. ‘Eu quero ser a madrinha dessa noite’, ela me disse. Apareceu na livraria toda de preto e ficou a nlite toda sentada ao meu lado, em silêncio absoluto. De vez em quando, ela se voltava para mim e, com aquela voz rouca, sussurrava: ‘Você é o Quixote! Você é o Quixote! Nessa época Clarice estava escrevendo Água viva. Nos dias seguintes, ela me telefonou várias vezes me convidando para visitá-la em seu apartamento. Quando eu chegava na portaria, o porteiro dizia: ‘Dona Clarice não está’. Ela estava em casa, mas deixava o porteiro com essa ordem de barrar as visitas e se esquecia de mim... Clarice não gostava muito de viajar. Mas um dia, numa visita a Porto Alegre para um encontro literário, ela me telefonou. ‘Quixote, estou aqui’,  me disse. ‘Venha me levar a algum lugar diferente, porque eu não gosto de escritores’. Fomos, então, caminhar pela Rua da Praia. Em um bar, pedimos um café, que foi servido no copo. ‘Numa xícara, por favor’, ela pediu. O rapaz, paciente, fez a troca. Ela tomou o café em absoluto silêncio. Pensei que estivesse aborrecida. De repente, ela me perguntou: ‘Como é mesmo o nome dessa cidade?’. Clarice já estava em Porto Alegre há três dias! Mas isso não importava, ela habitava mesmo o planeta Lispector... Chegou uma hora que em que eu me proibi de ler Clarice Lispector. Seus livros me provocavam a sensação de que tudo já foi escrito, de que nada há mais a dizer. Eu não suporto mais ler as ficções de Clarice. Claro que, às vezes, leio escondido de mim mesmo. Mas elas me perturbam muito”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/1995 – José Castello

por Carlos Drummond de Andrade

Clarice

veio de um mistério, partiu para outro.

Ficamos sem saber a essência do mistério.

Ou o mistério não era essencial.

Era Clarice bulindo no fundo mais fundo

Onde a palavra parece encontrar

Sua razão de ser, e retratar o homem.

Levitando acima do abismo Clarice/ riscava um sulco rubro e cinza no ar e

Fascinava-nos./

Fascinava-nos, apenas.

Deixamos para compreendê-la mais tarde/

Mais tarde, um dia... saberemos

Amar Clarice

Fonte: Jornal do Brasil, 09/12/1997 – Carlos Franco

por João Antonio

"Clarice Lispector é tão engajada quanto Moacyr Scliar e Rubem Fonseca, porque o epicentro de sua obra é o homem. O importante é que Clarice perseguia a verdade humana, com um talento extraordinário".

Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escrever 1. Porto Alegre: LP&M, 2008.

por João Cabral de Melo Neto

"Você sabe perfeitamente que escreve a única prosa de autor brasileiro atual que eu gostaria de escrever. Não digo que você escreve os únicos romances que eu gostaria de escrever, por dois motivos: a) porque eu não creio que o romance seja meu meio de expressão etc. etc. (coisas já discutidas com você há tempos); b) porque sou um sujeito tão envenenado por "construção", montagem, arquitetura literárias etc (coisas que também já conversamos), que forçosamente construiria mais o romance (do que você): não vai nisso uma crítica, mas o reconhecimento de que distintas coisas buscamos realizar. Etc. etc".

Fonte: LISPECTOR, Clarice. Correspondências. R.Janeiro: Rocco, 2002, p. 216.

por John Gledson

“Os escritores de minha preferência têm uma postura extremamente humana, jamais se endeusaram. Clarice não tem culpa da maneira como vem sendo cultuada, e eu honestamente acredito que ela não teria gostado nada de se transformar em uma espécie de símbolo religioso do feminismo caricatural

Fonte:

por Lúcia Miguel-Pereira

" Parece que tudo já foi tentado nesse terreno, mas ainda outro dia não tivemos aqui no Brasil uma agradabilíssima sur­presa com o livro Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector? Essa jovem escritora, que é uma romancista de gran­de futuro, sem dúvida conseguiu fazer para o nosso meio uma coisa nova e interessantíssima, embora não original em toda a extensão da palavra, pois seus processos parecem ser os de Joyce".

Fonte: SENNA, Homero. República das letras, 3ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996

por Lygia Fagundes Telles

"Devo dizer que no caso da Clarice, não havia esse perigo (de me influenciar por ela). Embora eu a admirasse, eu não sentia a paixão que tinha por um Thomas Mann ou Dostoiévski... Éramos da mesma geração.

Fonte: LUCENA, Suênio Campos de. 21 escritores brasileiros: uma viagem entre mitos e motes. São Paulo: Escrituras, 2001.

por Mario Benedeti

"Gosto de ler, especialmente, Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Nélida Piñon. Penso, sobretudo em Clarice, Nélida e também Cecília Meireles, que é uma das mminhas poetas favoritos. Gosto muito da literatura escrita por mulheres".

Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/1997 - José Castello

por Marly de Oliveira

"Quanto a Clarice, foi a leitura de A maçã no escuro que me aproximou dela. Wilson Martins escrevera uma crítica arrasante sobre esse livro, e eu senti-me na necessidade de a defender. Isso sensibilizou Clarice, que era uma mulher dada a depressões, sem alegria de viver. Uma vez fui passar com ela um fim-de-semana em Teresópolis, fiz-lhe várias perguntas, e fui anotando as suas respostas. Depois, entreguei-lhe essas notas, e ela decidiu utilizá-las no livro A paixão segundo G.H."

Fonte: SARAIVA, Arnaldo. conversas com escritores brasileiros. Porto: ECL, 2000. (Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Potugueses).

por Menalton Braff

“Gosto ainda de reler alguns livros da Clarice Lispector, Cidade sitiada e O lustre, por exemplo, são livros que ensinam. O despojamento da linguagem, em algums momentos, chega a ser perturbador. Há uma sinceridade orgânica, o avesso da escamoteação, que me deslumbra.”

Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2006    

por Nélida Piñon

"Foi uma amizade lindíssima que durou 17 anos. Nos falávamos diariamente. Ela era um gênio, mulher extraordináriamente intuitiva, ao contrário de mim, que escrevo contruindo o texto... Ela teve um câncer devastador, que a matou em 40 dias. Laguei toda a minha vida para cuidar dela. Nos últimos três dias, não sai do seu lado no hospital. Ela morreu segurando minha mão. Durante muitos anos me recusei a falar sobre ela... Clarice me dizia sempre: 'Faz a minha biografia'. Eu respondia: 'Você é engraçada. Sabe que eu nunca faria, por isso faz esta proposta'. Sou tida como uma mulher reservadíssima, comigo e com meus amigos".

Fonte: Marie Claire (S.Paulo), nº 89, ago. 1998 - Lucy Dias

por Olga SAvary

"Clarice é o maior escritor do Brasil. E digo escritor, no masculino, porque ela é o maior entre homens e mulheres. Mas dizer que a literatura de qualidade é coisa de homem não tem cabimento".

Fonte: revista Marie Claire, nº ? de 16/06/2011

por Rachel de Queiroz

“Gostava muito dela e ela gostava muito de mim. Era uma pessoa estranha, muito fechada, cheia de fragilidades. Você magoava a Clarice sem saber, era uma pessoa extremamente difícil. Como escritora, era a maior de todas nós”.

 

Fonte: Folha de São Paulo, Cynara Menezes

por Ricardo Piglia

“Agrada-me muitíssimo Clarice Lispector, considero-a também uma das grandes escritoras de qualquer língua”.

Fonte: Bravo! s.d. – Violeta Weinschelbaum

por Wilson Martins

“Acho que a obra de Clarice também precisa ser repensada. Foi Clarice, e não Guimarães Rosa, quem inaugurou o período estetizante de nossa literatura, pois Perto do coração selvagem é de 1943 e Sagarana é de 1946. A grande crítica, com as exceções  de Antonio Cândido e Sergio Milliet, praticamente silenciou a respeito do romance de Clarice. E Rosa se apossou da glória de pioneiro, quando a glória devia ser dela. Rosa apossou-se ainda de outras glórias. Por exemplo, da glória de Mário Palmério que, em 1956, publicou Vila dos confins, um romance que considero muito superior ao Grande sertão. O romance de Rosa emocionou por causa de suas experiências lingüísticas. Mas romance por romance, o de Palmério é melhor. Voltando a Clarice: depois de Perto do coração selvagem, ela caiu num certo limbo. No meu julgamento, seus livros de contos são infinitamente melhores que seus romances. Ela não é boa romancista”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/1998 – José Castello

Prossiga na entrevista:

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