por Alceu Amoroso Lima
"Penso que um escritor como Guimarães Rosa, que foi, desde 1922 até hoje, a maior revelação literária da prosa brasileira moderna, é bem a expressão dessa composição entre universalismo e localismo, entre europeanismo e americanismo, que há no fundo do nosso culturalismo nacional. E ainda há de inspirar grandes obras literárias e grandes movimentos culturais. A obra de Guimarães Rosa é o mais patente dos exemplos. É ao mesmo tempo, extremamente telúrica - representando mesmo a linguagem expressiva do linguajar do nosso homem do campo e, sociologicamente, o registro de um fenômeno como o do Cangaço, em pleno retrocesso, - e extremamente transoceânica, refletindo o universalismo de um homem na verdade muito culto como foi Guimarães Rosa. Isso explica mesmo o seu êxito mundial. E o seu exemplo será bastante fecundo para o nosso futuro literário, dentro do que me pareceu sempre ser o nosso equilibrio funcinal e orgânico entre a tradição européia e o futuro americano".
Fonte: Entrevista. Revista de Cultura Vozes. ano66, nº 1, fev. 1972,
por Antonio Callado
“Guimarães Rosa era genial. Passava do limite do explicável. Mas nunca conheci um sujeito tão metódico. Foi um menino paupérrimo, mas entrou para o Itamarati e levou uma vida muito regrada. Acho que não conseguiria produzir se não tivesse essa segurança. Rosa é um consolo, porque é a prova que existem gênios serenos”
Fonte: O Globo, 06/01/1996
por Autran Dourado
"Gosto demais dele. Grande sertão: veredas, por exemplo, é fantástico! Confesso que se um livro não me agrada até a página 50 eu largo. Com Rosa foi engraçado, porque qando cheguei nesse ponto tive de reler tudo. Muitas daquelas palavras utilizadas por ele parecem linguagem rural mineira, mas são invenção do Rosa. ele tinha uma capacidade de expressão enorme".
Fonte: LUCENA, Suênio Campos de. 21 escritores brasileiros: uma viagem entre mitos e motes. São Paulo: Escrituras, 2001.
por Carlos Drummond de Andrade
"Guimarães Rosa, para mim, continua admirável. Por mais que ele tenha em boa conta a originalidade de seus processos literários, vai muito além do seu próprio julgammento. Acho que ele é um louco que pensa que é Guiamrães Rosa".
Fonte: BLOCH, Pedro. Pedro Bloch entrevista. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989.
por Cesar Aira
"O recado do morro, de Guimarães Rosa fez-me escritor na pequena medida em que queria sê-lo. A luz de felicidade que há na obra de Guimarães Rosa e me atraiu tanto é um efeito dessa coincidência e redundância. O que ele faz é atualizar a plenitude da língua na imensa paisagem brasileira. O melhor do conto é que quando a mensagem chega ao destinatário descobre-se que era desnecessária porque Pedro Orósio era a montanha
Fonte: JOZEF, Bella . Diálogos Oblíquos. Rio de Janeiro: Liv. Francisco Alves Ed., 1999.
por Cláudio Magris
“Acredito que Guimarães Rosa seja um dos maiores escritores do mundo. E isso não quer dizer uma atração minha pelo exótico, pelo fascinante do Brasil, não. É ridículo e embaraçoso para mim falar, durante dois ou cinco minutos sobre Guimarães Rosa... A odisséia, a guerra... É como falar em poucos minutos sobre o que eu gosto em Guerra e paz de Tolstói... Primeiramente, há a capacidade de criar, inventar sem ser abstrato – daí a sensação de que Guimarães foi até a fonte da língua. Essa invenção... Eu não conheço outro escritor com esse sentimento pela unidade da vida... Por essa razão, o Grande sertão é para mim como Musil e seu Homem sem qualidades. Ou, como, por exemplo, a Bíblia - quero dizer, alguma coisa que me dá o sentimento de ver a vida, o mundo, o homem, o amor. Como na Odisséia, todas as categorias de amor.. Diadorim, Nausícaa... Calipso... A mulher negra (não lembro o nome)... É uma imagem épica da vida... Penso então que Gimarães Rosa, como Svevo, ainda não foi realmente lido...Mas ele merecia. É um escritor que, ao invés de sublinhar, explicita as dificuldades... O grande público ama os escritores que lhe dão o sentimento de que estão ocupados com grandes questões... Alguma coisa profunda... No ano passado eu dei um curso Fausto, de Goethe e falei sobre Rosa e sobre o diabo, sobre esse sentimento... Eu mencionei freqüentemente Guimarães Rosa – e as pessoas dizem: olha o Magris falando de novo em Guimarães Rosa”.
Fonte: Jornal da USP, 10 a 25/10/1992 – Nelson Ascher
Por Cabrera Infante
“Se o problema é encontrar um livro que trabalhe com elementos sul-americanos surpreendentes, então prefiro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, uma obra genuína que faz contribuições extraordinárias à literatura, mas que, lamentavelmente, quase ninguém conhece. Seu mundo é realmente mágico, sem ter nada a ver com o realismo mágico e todas essas porcarias. Rosa afeta a linguagem, e é isso que importa”.
Fonte: O Globo, 23/03/1996 – Geneton Moraes Neto
por Haroldo de Campos
"Considero Euclides da Cunha o condestável de nossa prosa, primeiro de uma dinastia linguageira que teve como sucessor legítimo o nosso abarrocado Guimarães Rosa"
Fonte: O Globo, 16/08/1997 - Paulo Roberto Pires
por Hilda Hilst
“Não sei se Rosa é meu ‘duplo’, mas posso dizer que ele era muito meu amigo. Eu dizia a ele: Guimarães, você é ótimo, é lindo, mas você nunca vai ser traduzido porque você escreve cada coisa. Ele respondia: Acredite, eu vou ser, Hilda. E logo começaram a traduzir Grande sertão veredas para tudo que é língua. E a tradutora do Grande sertão, Maryvonne Lapouge, acabou sendo minha tradutora para o francês, veja só. Incrível”.
Fonte: Folha de São Paulo, 12/01/2002 – Cassiano Elek Machado
por João Cabral de Melo Neto
"Guimarães rosa é, no Brasil, precisamente, o melhor exemplo desse novo estado de inquietção, de pesquisa, de consciência aetesanal, que vem marcando o romance nos últimos anos".
Fonte: Jornal do Commércio, 32/03/1968 - Aluízio Furtado de Mendonça
"(Rosa) Tinha o gênio. Um gênio que nem sempre Joyce tinha. Joyce quando inventava uma palavra, essa palavra não parecia irlandesa. Essa palavra parecia cosmopolita. Agora, quando Guimarães Rosa inventa uma palavra, essa palavra parece caipira de Minas. Então todo o mundo vê aquilo e pensa que é uma expressão que ele ouviu em minas. Eu o conheci muito bem, e ele falava para você; 'Não, essa palavra eu fiz'. Por exemplo, Sagarana. ele fez com saga, que é um negócio nórdico, e rana que parece que em tupi quer dizer como. Sagarana quer dizer como saga... A palavra soa como se fosse uma palavra brasileira. Eu me lembro que Guimarães Rosa gostava de conversar comigo sobre esse negócio de fabricação da escrita. E ele me mostrava coisas que eu confesso que estranhava. Eu me lembro que quando saiu Corpo de baile, eu estava no Itamarati nesse tempo, e então ele me perguntou: 'Você está lendo?' Eu disse: 'Tô lendo'. 'Em que parte você está?' "Ah, bom, eu não sei em que página eu estou'. 'Você já passou naquele pedaço?' É um conto muito bonito em que tem uma onça ameaçando um rebanho de gado. então o touro fica no meio, cercado das vacas que ficam ao redor dele. Não estou lembrado, mas parece que a onça avança e o touro mete uma chifrada nela, e está claro que o sangue jorra, ou sai num jato, o sangue brotou como um jato, a idéia é essa. 'Você viu que no fim daquela frase tem um ponto de exclamação?' Eu digo: 'Vi'. 'Agora, você não notou no livro que o ponto de exclamação está diferente?' Eu digo: 'Não, por quê?' Ele disse: 'Porque o ponto de exclamação tem um ponto antes e um ponto depois" (.!.). Eu disse: 'E daí?' Ele disse: 'É para dar a idéia de um jato'. Quer dizer, é um negócio fantástico, ninguém notou isso. Eu notei porque ele me chamou a atenção. Então realmente o que ele fez dá a impressão de uma fonte jorrando. Se você se fixar na tipografia, você vai pensar que aquilo é um erro de revisão. E ele fez aquilo de propósito. E o Rosa tinha dessas coisas, que ao mesmo tempo só ele compreendia, porque se ele não dissesse esse negócio... Vocês teriam notado isso?".
Fonte: 34 Letras, R. Janeiro, n° 3, mar. 1989 - Lana Lage
por Jorge Fernando dos Santos
"Estudiosos de sua obra, leitores comuns e professores que trabalham Grande sertão: veredas em sala de aula devem procurar no texto não apenas as águas da superfície, onde se narra o enredo principal de aventuras, mas também as correntes mais profundas, nas quais habitam senhas e símbolos de diferentes escolas filosóficas e esotéricas. Longe da religiosidade oficial, Guimarães Rosa procurava dar um sentido profundo e oculto a tudo o que escrevia, fazendo de sua literatura um jogo que desafia olhares argutos. Não é à toa que ele era um aficionado do xadrez".
Fonte: SANTOS, Jorge Fernando dos. A linguagem oculta de Guimarães Rosa. www.jorgefernandosantos.com.br (12/08/2008)
Por Jorge Amado
"Quando Rosa apareceu era uma coisa nova. Era algo que a gente precisava ler e conhecer e não tapar a vista e dizer 'isso não existe'. Foi preciso conhecer, reconhecer e discutir o Rosa... O Guimarães era um homem que tinhaa sua obra na mais alta conta, o que era perfeitamente justo e válido. ele tinha uma dimensão exatado valor da sua obra... O Rosa é o mais importante, aquele que a gente olha, preza e se sente pequeno diante dele".
Fonte: Cadernos da Literatura Brasileira, nª 3, mar. 1997
Por José J. Veiga
“Com Sagarana, que ainda é um livro bem regionalista, descobri uma literatura completamente diferente. Rosa não se limitava a contar casos do sertão, ele fazia uma literatura mais profunda e mais universal. Gosto muito, é claro, do Grande Sertão e de A terceira margem do rio. Mas depois ele passou a escrever coisas muito herméticas, como Tutaméia, e eu não identificava mais naqueles livros o escritor que eu conhecia. Na verdade, ele se tornou muito chato. Queria inovar a qualquer preço e não conseguiu”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/1997 – José Castello
Por Juan Carlos Onetti
“Demorou muitos anos para que Guimarães Rosa fosse conhecido no Uruguai. Para mim ele foi um gênio, seus contos são maravilhosos, e o romance Grande sertão: veredas, é admirável”.
Fonte : Leia (S.Paulo), jun. 1990 – Eduardo Montibello
Por Juan José Saer
“Um dos livros mais importantes escritos na literatura latino-americana – uso essa categoria por comodismo já que não acredito no gênero literatura “latino-americana” – é o Grande sertão veredas, de Guimarães Rosa. É um livro extraordinário, um dos mais modernos, mais renovadores e mais inesperado que li. Como toda a grande obra, ele cria um mundo próprio no qual somos convidados a entrar. Afinal são artistas que estabelecem as leis. Agora estamos acostumados com a pintura cubista, mas quando surgiu o trabalho de decomposição da figura diziam que estavam loucos. O mesmo aconteceu com os impressionistas. Diziam que os quadros eram mal pintados. O público estava acostumado a outro tipo de representação. O mesmo acontece com Guimarães, com sua maneira especial de narrar aquele lugar. Um mesmo fato pode ser contado de mil maneiras diferentes e Guimarães consegue estabelecer um tom muito pessoal. Dizem que cada escritor quando cria é como se fosse um novo idioma estrangeiro no coração de uma linguagem.”
Fonte: Jornal do Brasil, 04/10/1997 – Marili Ribeiro
por Juan Rulfo
Guimarães Rosa é o Ulisses americano. Ele é o melhor romancista da América Latina deste século."
Fonte: JOSEF, Bella. Diálogos oblíquos. Rio de Janeiro: Liv. Francisco Alves Ed., 1999.
por Lya Luft
"Sei lá, depois todos os grandes autores que eu fui lendo, a primeira leitura de Guimarães Rosa mudou alguma coisa. Agora, não mudou o meu jeito de escrever, mas mudou a maneira de ver as coisas diferentemente.
Fonte: Programa Roda Viva, da TV Cultura, 05/05/2008
por Mario Vargas Llosa
“Guimarães Rosa, sem dúvida. Eu creio que é o equivalente a Borges pela originalidade, a riqueza e a universalidade da obra. Mas há muitos grandes. Só que, entre os modernos, Guimarães Rosa é, sem dúvida, um dos mais universais. Grande sertão veredas é uma das obras-primas de nosso tempo”.
Fonte: Correio Braziliense, 04/07/1999 – Alexandre Machado
"É um escritor que eu admiro muito, que li com verdadeiro entusiasmo e deslumbramento. Grande sertão: veredas me pareceu um livro que constitui uma verdadeira façanha linguistica, creio que é uma das grandes experiências formais da literatura do nosso tempo, indiscutivelmente".
Fonte: RIBEIRO, Leo Gilson. O continente submerso. São Paulo: Best Seller,1988.
Por Milton Hatoum
“Quando fico encalacrado, vou direto ao Guimarães Rosa e releio uns trechos. É uma injeção na veia... a obra do Rosa é sempre sugestiva”.
Fonte: Bravo! Jun. 2000 – Michel Laub
por Murilo Rubião
"Eu não convivi com Guimarães Rosa, a não ser por correspondência e leitura, porque quando ele se transferiu para o Rio, eu já tinha voltado para Belo Horizonte, e depois fui para a Europa. Mas quando fui designado para Sevilha e Madrid, perguntaram se eu não queria levar um dossiê referente à Espanha, com dados econômicos, sociais, etc. Na parte da literatura eu estava mais ou menos a par. Então fui pegar esse dossiê e no elevador do Itamaraty no Rio de Janeiro estava um senhor de gravata borboleta, e quando ele ouviu meu nome apresentado pelo diplomata João Pinheiro Neto ele exclamou, “Murilo Rubião! Que coisa nos encontrarmos aqui. Gostei tanto do Ex-Mágico!” Todo o tempo segurando a minha mão. Ele tinha uma voz um pouco efeminada, e, segurando a minha mão por tanto tempo, eu fiquei ruborizado. Quando saímos do elevador, perguntei para João Pinheiro, “Quem é essa bicha de borboleta?” “É o Guimarães Rosa!” Eu sentei no chão, bati com a mão na cabeça, e disse “Essa não!”
Por Oswald de Andrade
“O problema não é enriquecer o idioma, é enriquecer o Brasil. Não é mais tempo para ficarmos brincando com a sintaxe, inventando palavras, dormindo no estilo. Isso é beletrismo, é trabalho para diletante. Em suma, não me apaixona mais. Depois, a de Guimarães não é a língua brasileira, é um invenção sua, talentosa sim, mas sem raízes e que redunda numa lamentável perda de tempo”.
Fonte: Versus (São Paulo), n. 6, nov. 1976 – Marcos Rey
Por Moacyr Scliar
“O exercício de linguagem que Guimarães Rosa fazia era muito interessante. Só que me dificultava a leitura. Por isto, prefiro escritores que lidam com uma linguagem mais convencional”.
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/1996 – Lourenço Fráguas
Por Ricardo Piglia
“Li Grande sertão: veredas na versão original e achei que fosse uma lígua inventada, fiquei fascinado. Na foi fácil, mas li co paixão e, ajudado por amigos. Depois li os contos, que são mais claros e limpos”.
Fonte: Cult (S.Paulo), n. 14, set. 1998 – Martha Mamede Batalha
Por Wilson Martins
“Depois do Grande sertão, Guimarães Rosa entrou em um beco sem saída: ou ele se renovava e já não era mais Guimarães Rosa, ou se repetia Por isso Grande Sertão não teve continuidade. Logo depois do lançamento do romance, encontrei-me com Sergio Milliet, que era muito chegado ao Rosa. Ele me disse ‘Este é apenas o primeiro volume, vai haver uma continuação que se chamará Grande sertão: cidades’ Mas em vez de escrever a continuação projetada, Rosa escreveu aqueles contos do Corpo de baile, que são totalmente diferentes. Não conseguiu continuar seu projeto. Corpo de baile é um livro que ninguém leu. Eu penso que o caso Guimarães Rosa precisa ser reexaminado pela crítica do futuro... Foi Clarice, e não Guimarães Rosa, quem inaugurou o período estetizante de nossa literatura, pois Perto do coração selvagem é de 1943 e Sagarana é de 1946. A grande crítica, com as exceções de Antonio Cândido e Sergio Milliet, praticamente silenciou a respeito do romance de Clarice. E Rosa se apossou da glória de pioneiro, quando a glória devia ser dela. Rosa apossou-se ainda de outras glórias. Por exemplo, da glória de Mário Palmério que, em 1956, publicou Vila dos confins, um romance que considero muito superior ao Grande sertão. O romance de Rosa emocionou por causa de suas experiências lingüísticas. Mas romance por romance, o de Palmério é melhor... As experiências lingüísticas de Rosa têm importância como experiências lingüísticas, mas não como criação literária. Muita gente diz que o Rosa foi o nosso Joyce. Guardadas as devidas proporções, isso é verdade, mas só guardadas as devidas proporções. Ao contrário do que ensinam os Irmãos Campos, Joyce renovou mais a narrativa do que a linguagem. Ele renovou a língua em Finnegans wake, romance que é mais uma brincadeira do que um romance. Mas o Ulisses é, antes de tudo, um romance realista”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/1998 – José Castello
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