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Crítica literária
Guimarães Rosa

"A tarefa do críitico é diferente da do autor. Além disso, não tenho uma opinião muito favorável sobre a crítica, pelo menos sob esse aspecto. Esta não é uma declaração de princípios; refere-se mais ao conceito que muitos críticos têm, ou não, de seu trabalho. No começo de minha carreira vários deles me atacaram sem absolutamente me compreenderem, pois me lançavam no rosto que meu estilo era exaltado, que eu permanecia no irreal, e assim toda espécie de retórica. Não é possível dialogar com pessoas que manifestam por escrito a sua imcompetência, pois lhe falta a condição básica para o diálogo: o respeito mútuo. Por isto o que essa gente escreve não me pertuba; simplesmente não leio mais jornais. E por favor, não me interprete mal: um crítico que me trate duramente mas baseado na compreensão, que apresente razões, pode continuar sendo meu interlocutor e amigo, por maiores que sejam as diferenças de opinião que nos separem. Mas aquele que escreve idiotices é maçante. Eu odeio a tolice... Bem, um crítico que não tem o desejo nem a capacidade de completar junto com o autor um determinado livro, que não quer ser intérprete ou intermediário, que não pode ser, porque lhe faltam condições, deveria se abster da crítica. Infelizmente a maior parte deles não faz isso, e por isso acontece que tão poucos deles, geralmente, têm algo a ver com a literatura. O que tal crítico pretende, em resumo, é vingar-se da literatura, ou sabe Deus que motivos o impulsionam. Talvez como passatempo. É um palhaço, ou um assassino. A crítica literária, que deveria ser uma parte da literatura, só tem razão de ser quando aspira a complementar, a preencher, em suma a permitir o acesso à obra. Só muito raramente é assim, e eu lamento, pois uma crítica bem entendida é muito importante para o escritor; ela o auxilia a enfrentar sua solidão. Mas raramente é assim, quase sempre a crítica não tem valor nem interesse, é apenas uma perda de tempo. Uma crítica tal como eu a desejo deixaria de ser crítica no sentido próprio, tanto faz se julga o autor positiva ou negativamente. Deve ser um diálogo entre o intérprete e o autor, uma conversa entre iguais que apenas se servem de meios diferentes. Ela exerce uma função literária indispensável. Em essência, deve ser produtiva e co-produtiva, mesmo no ataque e até no aniquilamento se fosse necessário.

Fonte: LORENZ, Gunter W. Diálogo com a América Latina. São Paulo: E.P. U. 1973.

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