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Religião
Hilda Hilst

“Eu sou religiosa sim, mas não tenho uma religião especifica. Acho que a experiência de Deus pode acontecer em qualquer uma delas ou mesmo sem nenhuma. Tem relatos de pessoas que eram agnósticas e de repente, durante um pequeno gesto sem importância, tiveram o êxtase religioso, uma visão de Deus e do universo, e mudaram completamente de vida. Eu acredito em quase tudo, porque muita coisa paranormal já aconteceu comigo. Tudo é surpreendente. E Deus, eu não conheço. Na biografia de Santa Ângela do Foligno, ela descreve uma visão que teve d’Ele: ‘Fiquei maravilhada. Mas lá, não havia nenhuma sombra de amor’. Ele deve ser o caos e a harmonia juntos. Deve ser maravilha, mas também o terror de Treblinka e Hiroshima. Ou do Afeganistão. Durante quase a totalidade do meu trabalho, mas principalmente em Qadós, eu procuro o nome de Deus: Tríplice Acrobata, Cara Cavada, O isso, O Cego, Cão de Pedra, Porco-Menino, Sumidouro, Grande Corpo Rajado, Haydum e muitos outros. E citando-me a mim mesma, em Com meus olhos de cão: ‘Deus? Uma superfície de gelo ancorada no riso”.   

Fonte: O Globo, 19/01/2002 – Luciana Hidalgo

"O meu Deus não é material. Deus eu não conheço. Não conheço esse senhor. Eu sempre dizia que Ele estava até no escarro, no mijo, não que Ele fosse escarro e esse mijo. Há uma coisa obscura e medonha nele, que me dá pavor. Ele pe uma coisa. Se bem que depois que eu li Heidegger, e releio sempre,não consigo mais falar 'coisa'. Heidegger escreveu um livro enorme sópara falar o que é uma coisa. Mas esse tipo de conversa você não pode pôr na revista. As pessoas ouvem falar em Deus e se chateiam. Tem que falar de coisas normais. Só quando o Paulo Coelho fala em Deus é que as pessoas escutam".

Fonte: Cult (S.Paulo) n° 12, julho de 1998 - Bruno Zeni

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