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Como escrevo?
Roberto Drummond

"Desde Hitler Manda Lembranças, de 1984, venho treinando escrever não em linha reta, mas sim indo e vindo, interrompendo e mudando os rumos da narrativa. E sempre tive a superstição de que vou morrer ao escrever o último capítulo de um livro. Por isso, escrevo sempre o último capítulo primeiro. Aí, como não morro, fico livre e tranqüilo para escrever o resto do livro. (...)Meus personagens têm sempre uma referência real. Todos. Uns mais, outro menos. O pistoleiro Absalão, de Ontem à Noite era Sexta- Feira, por exemplo, é inspirado num pistoleiro do Vale do Rio Doce, que tinha esse nome e gostava de se vestir de padre. E eu sempre fui amigo de gays, loucos e prostitutas. Muitos dos meus personagens e grande parte do material que uso nos livros vêm dessa época em que eu era a ovelha negra da família. Depois, entrei para a Juventude Comunista e passei à ovelha vermelha da família. (...) Fui aprendendo com Dostoiévski, Machado de Assis, Hemingway: minhas histórias vêm sempre da realidade. Ou de uma  mentira com requinte de verdade que te contam. A mentira é a coisa mais verdadeira que existe. Minha vocação é contar mentira. Ainda bem que sou escritor. Se ainda fosse jornalista... Quando chove, escrevo na cama ou na sala. Em dias de sol, gosto de trabalhar na beira da piscina do prédio. Escrevo de quatro a cinco horas do dia. E me preparo tomando três litros de água, fazendo uma hora de ginástica e caminhando 20 minutos por dia. Cheguei à conclusão de que a literatura exige preparo de atleta. Escrever não é apenas um ato intelectual: é físico também. Com essa preparação, estou pronto para enfrentar uma maratona literária de cinco horas, sem nada me doendo".

Fonte: Correio Braziliense, 25/01/1998 - José Rezende Jr.

Prossoga na entrevista:

Por que escreve?

Onde escreve?

Jornalismo

Crítica literária

Relações Literárias

Biografia