Simone de Beauvoir
"... Constrói-se a partir de experiências interiores sobre as quais refleti durante longo tempo, por vezes durante anos. A Convidada, por exemplo: aos vinte anos, supunha-me mais ou menos no centro de tudo, parecia-me poder ter influência sobre tudo. E depois, pouco a pouco, descobri que os outros nos escapam. Há pessoas que sabem isto aos cinco anos. Eu só o aprendi aos vinte e cinco. Demorei três anos para fazer esse primeiro, embora não seja muito longo... Comecei Os Mandarins em 1950, mas já em 1945 desejava descrever o momento que estávamos a viver, o entusiasmo, a esperança. Achava isso doloroso. E quando tudo deixou de avançar, pensei que era tempo de contar a história. Pensei seriamente no assunto durante dois anos, depois passei quatro ano a construir o livro e a escrevê-lo. Mas todos os temas já existiam, algumas cenas, certas personagens".
Fonte: CHAPSAL, Madeleine. Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote, 1967.
"Eu sempre estou com pressa para iniciar, embora, em geral, não goste de começar o dia. Primeiro eu tomo chá e, então, por volta das dez da manhã, começo e trabalho até à uma da tarde. Então eu vou ver meus amigos e após isso, às cinco da tarde, volto ao trabalho e sigo até às nove. Eu não tenho dificuldades em recuperar o fio da meada à tarde. Quando você sair, eu vou ler o jornal ou talvez fazer compras. [Mas] Na maioria das vezes é um prazer trabalhar. [...]Se o trabalho está indo bem, eu passo de quinze a trinta minutos lendo o que eu escrevi no dia anterior, e faço algumas correções. Então eu continuo daí. A fim de recuperar o segmento eu leio tudo o que escrevi."
Fonte: Escritoras e a arte da escrita: entrevistas da Paris Review. R.Janeiro: Gryphus, 2001.
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