"Eu acho perfeito. Mas eu acho que o motivo disso, talvez se você fosse mais longe, você ia chegar ao motivo disso, é que a crítica acabou. A crítica eclética, a crítica exercida com criatividade literária deixou de existir e foi substituída pela crítica universitária, vamos dizer assim... A dissecação do livro como se disseca um cadáver. Quer dizer, você apresenta aos alunos, você não incentiva o aluno a ler o livro, você incentiva o aluno a interpretar o livro, e não curtir o livro. E isso deu para suprir essa ausência da crítica especializada, crítica literária, criativa, que tinha no meu tempo, quando eu comecei a escrever – eu cito nomes, Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de Morais Neto, também conhecido pelo pseudônimo de Pedro Dantas, com o qual assinou crônicas esportivas, foi jornalista, crítico, jurista, cronista, poeta e professor], Álvaro Lins, Tristão de Ataíde e outros, Olívio Montenegro são críticos que... Em todas as capitais do Brasil tinha um grande crítico literário. Hoje eles sumiram e foram substituídos pelos resenhistas. Agora, o resenhista tem o seu lugar no jornalismo, mas desde que ele tenha o mínimo de competência. E hoje: “Quem é que quer fazer resenha desse livro aqui? Faz você.” Entrou um estagiário egresso de uma faculdade de jornalismo, e vai fazer a resenha de uma grande obra literária, um livro de poesia. Quer dizer, não tem o menor sentido isso. Quando não é um release da própria editora que sai nos jornais. Então isso virou também um excesso de comunicação sem nenhuma expressão. É a isso que eu me refiro quando digo que está se comunicando mais do que exprimindo. Na realidade não vai sobrar nada. Se sobrar um Oswaldo França Júnior já é uma grande coisa.
Fonte: Programa Roda Viva. GT Cultura de São Paulo, 28/12/1989
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