"A pergunta ( Qual é a graça de Deus?) não deixa de ter lá sua graça: é o título de meu último livro. Desde o primeiro já se podiam notar duas tendências que se estenderiam ao longo de todos eles, na busca de uma síntese da condição do homem, feito à imagem e se semelhança de Deus; humor e espiritualidade. Na minha 'leitura fiel do Evangelho inspirada no humor de Jesus', as duas constantes se fundem numa só. Nunca aceitei muito a figura, imposta pela tradição, de um Cristo apenas dramática, arrebatado ou mesmo intolerante, insensível a qualquer aspecto espirituoso desta vida. Ou, noutro extremo, a imagem celestial do Bom Pastor, consagrada em santinhos e livros de catecismo. Preferi imaginá-lo Deus feito homem, com os atributos naturais de um ser humano como todos nós, com momentos de bom e de mau humor,em convívio diário com os seus companheiros. Os meus comentários pessoais, na ótica de hoje, apenas enfatizam alguns aspectos do temperamento humano de Jesus, sem deixar de ser Deus. Não acrescentei nem suprimi nada, na fusão que fiz dos Quatro Evangelhos, inspirada na graça - em ambos os sentidos da palavra - de Cristo neste mundo, do nascimento à ressureição".

Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/1996 - Mario Sabino