"Jornalismo é uma atividade paralela à literatura. Meu amigo Otto Lara Resende, que é um grande jornalista, senta na máquina e faz um editorial em dez minutos. Existem pessoas que têm facilidade. Então escrevem o que quiserem: editoriais, discursos, resenhas etc. Uma vez o Otto estava escrevendo à máquina quando entrou um contínuo, viu que ele não estava copiando o que escrevia ese espantou: 'Ué, doutor Otto, o senhor tem redação própria?' Pois é isto: eu não tenho redação própria. Outro dia me pediram uma nota de dez linhas para o aniversário de um jornal literário. Isso me tirou o apetite e o sono, porque não sei escrever essas coisas. Só sei escrever a sério aquilo que me ocorre espontaneamente, de dentro para fora. E nem assim tenho facilidade. Ás vezes fico olhando para o papel em branco durante horas. Escrevo em jornal porque vivo de escrever. Tenho uma coluna semanal que sai na Gazeta do Povo aqui de Curitiba, simultaneamente com O Globo, com a Folha de São Paulo e outros jornais do Brasil. Se me perguntam se aproveito para livro o que escrevo no jornal, respondo que não. É o contrário: aproveito em jornal o que faço em livros. De vez em quando seleciono o material, reescrevo e faço um novo livro. Se não fizesse isso, correria o risco de reunir texto perecíveis, pois a crônica, como tal, tem muito de perecível."
Fonte: Um escritor na biblioteca: 1980. Curitiba: Biblioteca Pública do Paraná, 2013.
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