Um dia, Drummond, tendo visto Morangos silvestres, ficou tão empolgado, mas tão empolgado... que foi até o Leblon e voltou... a pé. Outro teria feito um comício ("Já me quiseram fazer deputado, mas eu não saberia o que falar aos eleitores... e não teria mais de três votos"), gritado, se embriagado. Drummond, não. Andou.
- Gosto tanto de cinema - me explica ele - que quase não vou. Fico indignado quando assisto a um mau filme.
Há poucos dias estavam Drummond e José Olímpio num bate-papo, quando o editor lhe diz:
- Drummond, eu acho que estou ficando burro.
O poeta se alarma.
- Sim, Drummond. Eu estou ficando burro.
- Burro por quê - quer saber o outro.
José Olímpio baixa os olhos e confessa sua imensa vergonha, meio gaguejante:
- Sabe Drummond?... Eu fui ver... sabe?... Ano passado em Marienbad... e não gostei.
Drummond o analisa com piedoso olhar e consola:
-Não José Olímpio. Você não é tão burro assim.
E confessa, sem o menor pudor:
Eu também não gostei.
Fonte: BLOCH, Pedro. Pedro Bloch entrevista. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989.
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