Euclides da Cunha
Jornalista-Literato ou
Literato-Jornalista
Euclides Dourado
Para quem considera o jornalismo um gênero literário, esta é uma especulação à toa. Mas não é uma questão unânime. Há quem acredite – André Gide, por exemplo – que jornalismo é uma coisa e literatura é outra. Há, inclusive, quem acredite que Euclides seja o pivô dessa polêmica. O crítico literário Marcelo Moraes Caetano acha que “há quem torça o nariz para reconhecer o jornalismo como gênero literário, razão principal, aliás, pela qual muitos não dizem que o Euclides é jornalista, porque consideram que isso seria diminuir ou amesquinhar a sua grandiosidade”
Tal polêmica pode parecer mais à toa ainda se considerarmos a existência do jornalismo literário. Temos até uma Academia Brasileira de Jornalismo Literário (www.abjl.org.br), onde é ministrado cursos em nível de pós-graduação na área da criação literária. Assim, não há o que discutir sobre isso. O jornalismo literário é um gênero que vem se destacando desde meados do século passado; já fez escola e deu alguns bons frutos, tais como A sangue frio, o romance de “não-ficção” de Truman Capote, considerado um dos “papas” nesse gênero.
Porém, se verificarmos que Os sertões foi escrito a partir das anotações de uma série de reportagens sob o título “Diário de uma expedição” publicada em agosto de 1897 n’O Estado de São Paulo, relatando os últimos dias de Canudos, veremos que Euclides escreveu um romance de “não-ficção”, bem antes de Truman Capote. No entanto não é um autor lembrado quando se fala de jornalismo literário, e neste sentido parece que o Marcelo Moraes Caetano tem razão: há uma certa resistência em considerar Euclides da Cunha um jornalista. Assim, vamos pedir a outro crítico literário - o Daniel Piza, por exemplo e não por acaso, também jornalista - para desenvolver um pouco mais essa especulação.
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Euclides Dourado é
um especulador que fica questionando se destacado autor em alguma área é mais literato ou é mais especializado em dita área.
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