Freud
Psicanalista-Literato
ou Literato Psicanalista?
Euclides Dourado
Dentre as especulações aqui apresentadas, esta talvez seja a mais inusitada. E isto se deve não apenas ao fato de a psicanálise e a literatura terem na palavra seu instrumento de trabalho. Deve-se ao fato de estarmos falando não de um psicanalista qualquer, e sim do fundador da psicanálise. O que me leva à esta especulação é que alguns autores já se perguntaram se Freud foi melhor como escritor ou como psicanalista, devido a qualidade literária de seus textos.
Bem sei que meu conhecimento sobre psicanálise e literatura são insuficientes para estabelecer tal especulação, mas como iniciei uma coletânea de depoimentos e estudos dedicados às relações entre estas duas áreas, e verificando a quantidade de referências ao “escritor” Freud, decidi incluí-lo no rol das especulações que tenho feito com algumas personalidades que se destacaram, também, nas letras. Está visto que trata-se de um ensaio de especulação, ou melhor dito de levantar uma polêmica literária.
A ligação de Freud com a literatura é manifestada por ele mesmo, em 1895, revelando que seus relatos clínicos parecem novelas, e atribui isto ao fato de ser este o único estilo adequado a descrever seu objetivo de estudo: o histórico de pacientes cujos sintomas têm relação com seu passado, com sua infância. É claro que isto não se aplica aos seus escritos neuropatológicos e as descrições psiquiátricas da psicose, conforme ressalta o estudo realizado por Portella Nunes em 1989.
Neste estudo vemos que “a paixão de Freud pela literatura não encontra paralelo em nenhum dos analistas que lhe seguiram” Esta paixão é tamanha ao ponto de não sabermos se ela terá influído na qualidade literária de suas obras. De qualquer modo fica registrado o fato de ele ter recebido apenas um prêmio importante em toda sua vida: o prêmio Goethe de literatura, em 1930.
Outro indicador do apreço de Freud pela literatura é a palestra que ele fez em 1907, sobre a importância do devaneio na criação literária, publicada no ano seguinte sob o título de Escritores criativos e devaneio, que até hoje é uma leitura favorita dos escritores. Para concluir vale citar o professor de literatura, Dr. Walter Carlos Costa, para quem "Freud pertence a uma fina linhagem de homens que souberam ver e cultivar o poder das palavras ditas pelos escritores...e na raiz de sua obra, que ajudou a modelar a modernidade, está o literario".
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Euclides Dourado é
um especulador que fica questionando se destacado autor em alguma área é mais literato ou é mais especializado em dita área.
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