"O romance de Napoleão é difícil do ponto de vista do diálogo, mas meu instinto me diz para usar ritmos e vocabulário não muito diferentes dos nossos. Afinal de contas, o Don Juan, de Byron, quase que poderia ter sido escrito hoje. Imagino os soldados falando como os soldados de hoje falam. De qualquer forma, estão falando francês. Quanto ao filme de Napoleão, Kubrick deve seguir seu próprio caminho - que certamente será pedregoso... Estou trabalhando em um romance destinado a expressar a Inglaterra da época de Eduardo III, usando os estratagemas de Dos Passos. Creio que há um grande campo no romance histórico, desde que não seja feito por Mary Renault ou Georgette Heyer. O século XIV de meu romance será evocado principalmente em termos de odores e sentimentos viscerais, e terá laivos de um nojo geral em vez de nostalgia romântica...O romance que tenho em mente, para o qual escrevi um plano de noventa páginas, é sobre o Príncipe Negro. Achei que seria divertido surrupiar com espalhafato os estratagemas da câmara-olho do cinejornal de Dos Passos, apenas para ver como poderiam funcionar, principalmente com a peste negra, Crécy e a campanha espanhola. O resultado poderia ser o século XII acontecer em outra galáxia, onde a linguagem e a literatura tivessem de alguma forma chegado ao século XX A técnica poderia fazer os personagens históricos parecerem remotos e um tanto cômicos - e é isso o que desejo".
Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989,
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