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O que é inspiração
Ferreira Gullar

"Escute, a palavra inspiração, ela tem uma conotação antiquada, pressupõe inspiração divina ou de deuses. Isso, realmente, não é o caso. Mas transpiração é trabalho. Sem transpiração não há arte, sem trabalho, sem o apuro dos meios, da forma, não há arte. Mas também sem essa outra coisa que se chama inspiração também não há. Porque do contrário, se saber fazer fosse suficiente para se fazer arte, então todo poeta, depois que ele ganhasse o domínio da sua técnica, ele passaria a produzir em série obras-primas, coisa que a história mostra que não é verdade... Sim, (é uma mágica) porque eu digo, um poeta como João Cabral disse que não tem inspiração. Eu brincava com ele, eu dizia: é mentira, se você fizesse a poesia que você diz que faz não prestaria, mas como você é um grande poeta, você diz uma coisa e faz outra".

Fonte: Programa Roda Viva, da TV Cultura, 15/10/2001

"Não (existe a inspiração), há um estado de liberdade interior que torna comunicáveis todas as dimensões dimensões de nossa sensibilidade e do nosso conhecimento. Não há inspiração, porque não existe Deus, nem nada divino: é uma experiência humana, puramente. Eu digo sempre que a técnica é imprescindível na realização do poema e da arte, qualquer que seja. É impossível realizar a literatura ou a música ou a pintura sem o domínio da técnica: isso é fundamental para o artista. Mas, se a técnica é imprescindível, não é suficiente. Sem esse estado especial em que todos os metais se fundem, em que todas palavras, as sensações, as experiências do artista se intercomunicam, sem esse momento de extrema liberdade interior, ele, o artista, é incapaz de criar a obra de arte".

Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Biografia e criação literária. Lauro de Freitas, BA: Livro. com, 2009.

 

"Creio que o impulso secreto (para escrever Poema sujo, em 1975) foi a urgência de reafirmar a vida, de resgatá-la na distante São Luís da infância. Escrevi o poema num estado de espírito especial, 'inspirado', como se dizia antigamente. Não tinha plena consciência do que escrevia e nem hoje sei ao certo o que o poema significa. A verdade é que, ao escrevê-lo, me sentia vivendo em plenitude".

Fonte: MARETTI, Eduardo. Escritores: entrevistas da Revista Submarino. São Paulo: Limiar, 2000.

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