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Música
Ferreira Gullar

“Letra de música não é poema. Pode conter poesia, como o poema a contém ou não. Mas são gêneros específicos. Uma letra de música precisa de música. Você pode encontrar exceções, mas na grande maioria dos casos uma letra de música necessita da música para alcançar sua expressão cabal. Existe uma música conhecidíssima, verdadeira obra-prima da MPB, que diz assim: ‘Podemos ser amigos, simplesmente. / Amigos simplesmente, e nada mais’. Chama-se Chuvas de verão; é da autoria de Fernando Lobo. Mas se suprimirmos a música, alguém poderia que isso é poesia? Não é. Então, a diferença que existe é apenas a seguinte: quando o poeta escreve o poema, sabe que terá de utilizar ali todos os recursos necessários para que a expressão verbal esteja completa nesse mesmo poema. Por isso, o poema tem uma linguagem própria que constitui uma elaboração específica e distinta da letra de música. É tão difícil fazer uma letra de música boa quanto um bom poema, pois isso requer conhecimento e domínio da técnica musical – enfim, sutilezas que o poema também exige. Só que é diferente. Parece-me uma coisa absolutamente escandalosa toda essa confusão. Criou-se, inclusive, uma situação de conflito, de disputa. A letra de música pode conter poesia, sem ser poema, isto é, sem ter a autonomia do poema...É que a poesia está na janela, na paisagem, na música, em qualquer coisa. Poesia é um sentimento, uma emoção. Conhece-se a poesia através da música, do teatro, da pintura, do cinema. Em tudo isso há poesia. Agora, o gênero literário chamado poesia, que existe no poema, somente se expressa através do poema”.

Fonte: Poesia Sempre (RJ), ano 6, n. 9, mar. 1998  

"O Fagner, por conta própria, pegou os meus poemas e começou a botar música. Depois me procurou e falou: 'Ô, poeta, eu quero mostrar pra você as músicas que coloquei nos seus poemas'. E assim começamos as parcerias e ele a me chamar de parceiro. Depois ele fez uma música e pediu pra eu botar letra. Foi o único caso, porque no geral ele bota música no poema. O Milton (Nascimento) foi o seguinte: Em 1979 o pessoal fez um espetáculo com o Poema Sujo. Tinha a Esther Goes e o Rubens Correia. O Milton foi chamado para fazer a música e ele musicou uma série de trechos do poema. Num outro caso, numa peça francesa sobre o Tiradentes monstada pelo Fagundes, cujo texto eu traduzi para o português, havia um poema que eu reescrevi e o Milton pôs música nesse poema também... O Paulinho da Viola, que é meu amigo próximo, porque mora aqui no Rio e às vezes me procura para bater papo, me pediu uma letra para seu novo disco. Eu fiz a letra e assim nasceu Lição de Vida, que tem como subtítulo Molejo Dialético."  

Fonte: Estado de Minas, 10/09/2000 - Jorge Fernando dos Santos   

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