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Política
Luiz Antonio de Assis Brasil

"Escritores, em geral, são desastrosos quando dão depoimentos. No que toca à política, preponderam ambivalências, meias-palavras, paradoxos, dislates de toda ordem. As entrevistas, quando chegam a esse tema, entram por um túnel sombrio; o escritor se exaspera, responde a primeira coisa que lhe vem à mente, radicaliza, quer ver-se livre da indigesta pergunta. O entrevistador percebe esse mal-estar, que pode degenerar em franca hostilidade; daí que passa de imediato a outros assuntos, restabelecendo a harmonia. Tudo isso decorre do fato simples: a escrita é solitária, e o escritor jamais consegue uma entente confortável entre o individualismo do seu trabalho e as exigências do coletivo ao qual ele mesmo pertence. Alguns usam paliativos, tais como o engajamento ostensivo. Foi o caso de Sartre e, também, de Vargas Llosa. Com isso justificam-se com o coletivo e consigo mesmos. Outros, também ostensivamente, provocam a esquerda e a direita: Mario Quintana, por exemplo, escreveu um poema significativo, em A rua dos cataventos (1940), o qual lhe rendeu não poucos dissabores numa época de acirrado debate ideológico: Eu nada entendo da questão social / Eu faço parte dela, simplesmente / Eu sei apenas o meu próprio mal / Que não é bem o mal de toda gente. A necessidade de engajamento também fustigou outros intelectuais, como Érico Veríssimo. E para não ficar apenas nos gaúchos, posso pensar em Jorge Amado que, depois de abandonar sua posição à esquerda, viu-se alvo da patrulha stalinista. Em suma: este é um tema tão importante quanto irresolvido. E assim ficará enquanto existirem escritores e enquanto existir a sociedade. O presente livro é uma demonstração cabal. O leitor poderá comprovar o quanto as declarações se opõem umas às outras; o quanto elas manifestam desagrado e, por vezes, repulsa. Em certos casos, o escritor torna-se um selvagem. Mas tudo isso tem origem no desconforto de que falei antes. Um fato é certo: não temos como fugir da política, mesmo porque, sem ela, a alternativa é a ditadura – e isso ninguém quer, muito menos os escritores. Os escritores, para resolverem o caso, deveriam desdramatizar o assunto, e não exasperar-se com ele. Afinal, se o entrevistador perguntou, é porque há alguma razão. A resposta limpa, sincera e frontal é sempre a melhor mentira.

Fonte: Introdução do livro BRITO, José Domingos. Literatura e política, vol. 5. São Paulo: Novera, 2007.

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