“Pô, a clássica pergunta, né? Eu estive pensando sobre isso, estive pensando objetivamente. Eu tive uma infância muito limitada. Eu era impedido de jogar bola, de fazer as coisas que os outros meninos faziam. Só tinha livros, me davam muitos livros, porque queriam me ver em casa lendo. Então, foi o que sobrou. Me faltou a vida, mas me sobrou a literatura. Então, coisas que eu não vivi e que eu não vivo e que ainda não me permito, porque esses pais ainda estão vivos dentro de mim, eu vivo através da literatura, vivo através dela; as pessoas às vezes, se espantam. Muitos dizem assim: Ó Assis, você que é tão bom, tão doce, como é que escreve as coisas terríveis, que estão nos seus livros? Eu acho que isso foi o que me sobrou: viver através das minhas personagens aquilo que não me foi permitido e que ainda não me sinto em condições de viver”.
Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumênica Editrici scrl, 1994 |