"Acho meu próprio caso um tanto estranho. Eu ia ser engenheiro de minas ou geólogo. Entre os seis e doze anos, passei muitas horas de meu tempo construindo um mundo particular altamente elaborado, baseado, em primeiro lugar, em uma paisagem - os terrenos calcáreos dos Peninos -; e, em segundo lugar, em uma indústria, uma mina de chumbo. Agora percebo que, fazendo isso, tinha que estabelecer certas regras para mim mesmo. Podia escolher entre duas máquinas necessárias para fazer um trabalho, mas elas tinham que ser máquinas reais, que eu pudesse encontrar nos catálogos. Podia escolher entre duas maneiras de drenar uma mina, mas não era permitido utilizar métodos mágicos. Então veio um dia que, mais tarde, olhando para trás, parece muito importante. Eu estava projetando minha idéia da usina de enriquecimento do mineral - sabe, a idéia platônica de como deveria ser. Havia dois tipos de maquinaria para separar o lodo, uma eu achava mais bonita do que a outra, mas sabia que a outra era mais eficiente. Senti-me diante de algo a que só posso dar o nome de escolha moral - era minha obrigação ficar com a segunda máquina, que era mais eficiente. Mais tarde percebi que, ao construir esse mundo que era habitado apenas por mim, já estava começando a aprender como se escreve poesia. Então, minha decisão final, que pareceu ser um tanto casual na época, foi tomada em 1922, em março, quando eu estava caminhando por um campo, com um amigo da escola que se tornaria pintor. Ele perguntou: "Você costuma escrever poesia?". E respondi: "Não". Eu nunca havia pensado em fazer isso. Ele disse: "Por que não escreve?". E nesse momento decidi que era isso que iria fazer. Olhando para trás, compreendi como o terreno já havia sido preparado".
Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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