p/ Christopher Isherwood
"Ele não demonstrava nenhum interesse por poesia naquele tempo. Era um garoto muito científico - filho de um médico -, interessado em metalurgia, geologia, mineração. Sabia muita coisa sobre diversas minas da Inglaterra, e adorava participar de excursões ao Noth Country para visitá-las. Tinha um mundo mítico tremendamenteforte, místico, que caregava consigo desde o começo da infância. Então eu o encontrei de novo quando tinha 18 anos e eu 21 e ele me mostrou todos os poeas que havia escrito - não era o tipo de coisa pela qual é conhecido agora. Era um trabalho intuitivo, mas brilhante; parecia um pouco com Hardy, ou Frost, ou Edward Thomas... Ele estava sempre me mostrando seu trabalho e nós o discutíamos. Então, um dia - era o inverno de 1934-35 - ele me enviou uma peça chamada The chase e dei sugestões para complementá-la. Havia partes que eu podia escrever e coisas que apenas ele poderia escrever; e dessa maneira começamos a formar essa coisa enorme, meio malconstruída, chamada The dog beneath the skin. Ela nunca foi encenada na íntegra; é muito longa. Ficamos verdadeiramente surpresos ao ver como foi bem recebida em um teatro de Londres e então pensamos: Bem, temos que fazer isso de novo. E, conscientemente, pensamos em um assunto, o estudo de um líder como Lawrence da Arábia, mas traduzido em termos de alpinismo - The ascent of F6. Queríamos contrastar o alpinismo feito por gosto e o alpinismo usado para fins políticos, da mesma forma que Lawrence foi para o deserto primeiro porque o amava e acabou sendo usado politicamente. Auden foi o compositor, o poeta, e minha função foi escrever a prosa e esboçar as linhas gerais. Mais tarde, Auden encarregou-se de parte da prosa, mas eu não escrevi nenhuma liha de poesia, a não ser um fragmento de verso de pé-quebrado. Quando chegamos a On the frontier, Auden estava escrevendo mais do que eu, embora o trabalho ainda fosse definitivamente uma parceria. A primeira peça foi escrita meio por correspondência, enviando as páginas uma para o outro. Mas na segunda e terceira trabalhamos juntos, em Portugal e outros lugares. Auden, que adora ficar em ambientes fechados, trabalhava dentro de casa, e eu no jardim. Ele terminava sua tarefa - incluindo algumas de suas melhores poesias - com surpreendente velocidade. Nós retocávamos muito pouco; e lá se iam as págians para as editoras".
Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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