"Nunca fiz análise. Não posso fazer análise numa língua que não é a minha, pois estou quase sempre no exterior. Além do mais, embora tenha grande admiração por Freud, acho a psicanálise, sob o ponto de vista terapêutico, muito insucificiente. Você pode ficar 20 anos na dependência de um psicanalista para ser consertado. Prefiro ficar com meus problemas do que ver, mesmo que seja só por dois anos, uma vez por semana, a cara de um chato".
Fonte: Perspectiva Universitária, Rio de Janeiro, nº 200, fev. 1986.
"Eu estava em Madrid quando a mulher de um colega da Embaixada me sugeriu um encontro com o psiquiatra López Ibor, durante o qual ele me pediu para lhe levar um livro meu. Levei-lhe o volume Duas águas que ele leu e o comentou, dizendo: 'O que me impressiona é a sua obsessão pela morte'. Eu retorqui: 'A morte de que falo não é a rilkeana, é a morte social, do miserável na seca, no mangue, não é a minha'. E ele disse uma coisa engraçada que eu nunca esqueci: 'Aí é que o senhor se engana: o senhor fala na morte social para exorcizar o seu medo da morte'. E realmente tenho muito medo da morte".
Fonte: SARAIVA, Arnaldo. Conversas com escritores brasileiros. Porto: ECL, 2000 (Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses).
“Não (o dado onírico, as forças do inconsciente, não são elementos sem relevância alguma para minha poesia), mas eu procuro que sejam. Eu gostaria de criar como um matemático, sempre a partir de elementos racionais. A matemática é o extremo racional da linguagem, e a poesia também se dirige à inteligência. Eu impeço tanto quanto possível que o inconsciente governe minha mão. Mas, de repente, o inconsciente faz uma má-criação e a pessoa acaba derrotada. É verdade que ele colabora com associações novas de palavras, com ‘saídas’ para poemas... (Caso isto ocorra comigo) eu deixaria o poema de lado, e, um dia o terminaria ou não. Mas se o inconsciente agir, contra a minha vontade, e me der uma solução que eu julgar válida, sou suficientemente cínico para aproveitá-la”.
Fonte: SECCHIN, Antonio Carlos. João Cabral: a poesia de menos. São Paulo: Topbooks/UMC, 1999.
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