"Barthes é um homem brilhante, mas pertence a esse âmbito um pouco bizantino da nova crítica francesa. Ali já não se pratica agora a simples literatura, mas sim uma literatura de literatura. A afirmação não é minha, mas de Georges Poulet, quando chama de 'discurso ao cubo' a isso que está na moda. O crítico fala de um autor e outro crítico fala do que esse crítico diz desse autor, etc... Não é que eu não aprecie essa 'proliferação cancerosa', talvez inevitável, nesse tempo dos congressos de professores e críticos, mas penso que é perigosamente estilizada. Admiro Sartre, considero-o uma das grandes testemunhas de nosso tempo e não questiono seu talento. Aqui, só quero referir-me à sua participaçõa nesse fenômeno. Escreveu uma exegese de Genet mais extensa do que toda a obra de Genet runida. Isso não seria o mais alarmante. O mais alarmante é que sobre essa análise, já se lançaram os outros críticos para escrever exegeses da exegese. Que provocarão outras, e assim ad infinitum. Este fenômeno acusa uma esterilização da capacidade criadora em primeira instância, para fazer 'meramente' (o advérbio entre irônicas aspas) romances, ou teatro, ou poesia. Quando isso ocorre, devemos considerar o fato como manifestação de decadência: num país, num grupo cultural, numa escola. Um esgotamento do gênio criador, esse gênio criador que requer a presença um pouco cândida de seres com algo a dizer sobre o mundo, não sobre outros livros. É siginificativo que tudo isso se produza numa França já sem grandes criadores: Céline morreu, Camus morreu, Malraux não escreve mais ficção, Sartre também morreu. Quem restou? Os críticos e alguns escritores bons, mas que sobressaem sobretudo pelo engenho, não pelo gênio. É o caso de Robbe-Grillet."
Fonte: JOZEF, Bella. Diálogos oblíquos. Rio de Janeiro: Liv. Francisco Alves Ed., 1999.
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