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Biografia familiar

Epílogo

Cícero da Mata

     No sábado mesmo a família fora avisada que Erotildes e Vera haviam colocado, previamente, a Mãe num seguro funerário e que tudo já estava providenciado para o sepultamento no jazigo de sua família. Foi um alívio para todos, que puderam se preparar melhor para o velório realizado na capela do Cemitério São Judas Tadeu, em Guarulhos. 

     Na noite de sábado mais de 20 parentes mais próximos velaram o corpo até o domingo pela manhã. Na madrugada via-se um amontoado de gente deitada em colchonetes; alguns cochilavam sentados nos bancos; enquanto outros perambulavam e conversavam em torno da capela.

    

     Numa sala ao lado, velavam o corpo de um rapaz que faleceu num acidente e teve o rosto inteiramente deformado. Uma parente sua, cansada daquele velório, foi visitar o velório da Mãe e ficou encantada com o que viu: um rosto plácido, quase alegre, descansando. Comentou com uma pessoa ao lado:

- Dever ser bom morrer assim, né? Após ter vivido tanto tempo, deixar esse mundo rodeado de parentes e amigos. A gente vê no rosto dela que está partindo numa boa. Infelizmente não é o caso do meu parente, que morreu jovem com um rosto que nem dá para ver se está alegre ou triste.

    A mulher tinha razão: a Mãe partiu como que atendendo a um chamado, com um ar de dever cumprido. No velório não havia choro, só velas para iluminar seu caminho. Todo o choro foi consumido na tarde daquele sábado. À noite ficou só para a despedida, as rezas e as conversas cotidianas que embalam os encontros de tantos parentes. No domingo pela manhã começaram a chegar os parentes que moravam mais distantes e suas amigas e conhecidos da Vila Guilherme.

     Por volta da 10:30hs. a família foi convidada a vê-la pela última vez. O caixão foi fechado e o cortejo levou-a até a sepultura. Haviam mais de 100 pessoas, sendo quase metade constituída de parentes. Vale dizer que mais de 50 pessoas eram amigas e conhecidas da Vila Guilherme, que foram ali se despedir de Dona Dina. Um funeral próprio de pessoas muito queridas em vida.

     No caminho de volta da sepultura - uma ladeira bastante acentuada - as pessoas caminhavam devagar com um semblante contrito que se desfazia à medida que chegavam ao portão do Cemitério. Os familiares, amigos e conhecidos se despediam, enquanto os filhos puderam fazer uma reflexão: A Mãe, que tanto relutou em morar em São Paulo, ao fim da vida acabou gostando do lugar, e os tantos paulistas ali presentes demonstravam que a recíproca era verdadeira.          

 

1ª - Cerimônia de um casamento
2ª - Peripécias do tio pastor
3ª - A grande família

- Primeira diáspora

5ª - Segunda diáspora

6ª - Primeira dispersão

7ª - Terceira diáspora

8ª - Terceria dispersão

9ª - A era do matriarcado

10ª - A casa das rosas (e dos espinhos)                                            11ª - Última diáspora                                                                            12ª - Funeral e memória