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 Biografia familiar

5ª parte:  Segunda Diáspora

Cícero da Mata

      Em setembro de 1956 a família – exceto o pai, Euclides, Erotildes e Maria, que se casou com o paulista e guarda-civil Darquinho - está de volta à Jupi, agora morando na “rua de baixo”. Na época a cidade podia contar apenas com duas ruas importantes: a de cima e a de baixo separadas pela praça central. Praça é força de expressão, pois não havia árvores e tampouco bancos para sentar. Era um grande quadrado, que a gente chamava de “redondo”, ninguém sabe exatamente porquê.

      Certamente chamávamos assim devido, talvez, ao fato de aquele enorme quadrado ter sido um dia redondo. Jupi, como o nome indica, tem origem indígena e em meados do século XVII já havia índios vivendo ali. E, como se sabe, as aldeias são constituídas num espaço redondo e não quadrado. Hoje esse lugar é ocupado pela Praça Nossa Senhora do Rosário, padroeira da cidade, em parte cercado, com árvores, bancos e até um espaço para eventos de rua.

      Para comprovar sua origem indigena, o nome do povoado sempre foi Jupy, cuja alteração para Jupi ocorreu em 31/01/1948, através da lei estadual nº 421. Muito antes disso, o povoado era uma sesmaria pertencente ao município de Brejo da Madre de Deus; depois, já como distrito, passou a pertencer ao município de São Bento do Una; em seguida o distrito já pertence a Canhotinho; e depois, em 1931, o distrito é transferido para o novo município de Angelim. Sua elevação à categoria de cidade se dá em 31/12/1958, com a Lei nº 3.331.

      Seria interessante estudar a origem e o desenvolvimento destas cidades. Pois algumas mais antigas cresceram menos que outras mais novas. A última expansão de Jupi se deu meados dos anos 70 com a criação da rodovia BR 423, passando ao lado da cidade. Foi assim que o “redondo” se transformou em praça e a cidade passou a crescer em direção a rodovia. Ainda hoje a cidade mantém o traçado antigo, com um bairro novo que se estende até a rodovia. Hoje (2010) observa-se algumas casas comerciais e residências situadas já do outro lado da rodovia, indicando a zona de expansão da cidade.

      Voltando à família, o ano de 1957 trouxe consigo o último filho: Zezé, gerado em São Paulo no ano anterior e nascido na “rua de baixo” em frente a casa de seu Zulmiro e ao lado da casa de seu Minga e seu Zé Freire, pessoas ilustres do lugar. Por esta época, José, com 7 anos, adotou seu Minga como pai e não saía de sua casa: uma “oficina” de conserto de arreios e selas de cavalo. A mãe, com um bebê para criar, não se preocupava com isso e tinha total confiança na família de seu Minga, que não tendo filhos pequenos, recebeu de bom grado a adoção feita pelo menino.

      Pouco depois a mãe começou a receber notícias estranhas vindas de São Paulo. Uma delas dizia que o pai estava namorando uma moça do norte e que estava pensando em casamento. A notícia deixou a mãe alarmada. Com um filho recém nascido não queria, de jeito nenhum, voltar à São Paulo. Mas a notícia do namoro e, pior ainda, a perspectiva de perder o marido fez ela repensar a permanência em Jupi. Em conversas com os “compadres” e “comadres” sobre o ocorrido, foi amadurecendo uma segunda viagem à São Paulo. Seu Zé Cândio se prontificou a emprestar o dinheiro para as passagens, agora de ônibus, e em 1958 a família se junta de novo em São Paulo, no mesmo bairro que haviam morado dois anos antes: o Brooklin Paulista. A pronúncia era Bruquilim e só mais tarde ficamos sabendo que a emenda “paulista” era para se diferenciar de outro bairro nobre que fica na cidade de Nova Iorque.

      A nova estadia da família neste bairro durou pouco. O pai trabalhava como guarda-noturno numa fábrica de ventiladores (Contact) na mesma rua onde residia, - Av. Rodrigues Alves (Hoje, Av. Ibirapuera) - mas logo saiu do emprego e abriu uma barraca na feira para vender tecidos. Há tempos que já não existe esse mercado em feiras. Era como se fosse uma loja onde as pessoas compravam cortes (ou metros) de tecidos. Mas, tudo indica que este comércio não ia muito bem. As lojas de tecidos pipocavam pelo bairro. Assim, o pai começou a falar em voltar para o “norte”. Bem, a alegria da mãe, ao saber desse desejo, não foi pouca. São Paulo, definitivamente, não era "lugar de gente morar", como ela repetia a todo instante.

       Com um estímulo desses, em princípios de 1959, voltam, de novo, à Pernambuco para morar, agora, numa cidade maior: Garanhuns, a suíça pernambucana. A família volta completa e se instala no, ainda hoje, melhor bairro da cidade: o Arraial, ou Heliópolis. Fixam residência na Av. Rui Barbosa e o pai monta uma mercearia na rua paralela: Julio Brasileiro. A vivência aí durou um pouco, até 1964, quando se dá a 3ª diáspora. Mas a vida levada nessa cidade e a volta, de novo, à São Paulo fica para o próximo capítulo.

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1ª - Cerimônia de um casamento

2ª - Peripécias do tio pastor

3ª - A grande família

4ª - Primeira diáspora

- Segunda dispersão

7ª - Terceira diáspora

8ª - Terceira dispersão

9ª - A era do matriarcado

10ª - A casa das rosas (e dos espinhos)

11ª - Última diáspora

12ª - Última viagem

13ª - Epílogo